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Dona Conceição e a Fraternidade do Metrô

Dona Conceição e a Fraternidade do Metrô

O que acontece se você entrar com um limão no metrô? Minha amiga Isabela Calil, fez uma excelente limonada ao nos presentear com essa crônica bem humorada, mostrando que sempre é possível ver o lado bom da vida, principalmente nesta viagem de metrô que se você entrar com um limão… Ele certamente irá virar limonada! Segue o texto dela:

Eu tenho uma relação de amor e ódio com o Metrô.
Acho um desrespeito, um absurdo e uma covardia a desestrutura do Metrô, mas adoro os encontros que acontecem lá!
Durante a viagem eu dou nome as pessoas e imagino a vida delas. Hoje foi mais ou menos assim:

Sempre vou no vagão das mulheres. Não me atrevo a ir no misto, porque lá tenho que ficar com as costas envergadas que nem um arco pra não tomar uma sarrada. Entrei na pontinha do pé e com a mochila presa na porta, de tão cheio que estava hoje.

Em Thomás Coelho ninguém se atreveu a entrar, mas em Engenho da Rainha a mulherada chegou chegando.

Dona Conceição (ela tinha cara de Conceição), entrou com as duas mãos pro alto dizendo:
– Que Deus abençoe todas vcs, minhas filhas lutadoras.
Eu ouvi um “Amém!” vindo de vários lados.
Ela deu um 360° enquanto entrava e completou:
– Angeliquinha tá aí?
A Angélica respondeu:
– Sou eu! – e começou a balançar um pedaço da mão, porque o braço não dava pra mexer.
– Dia 14, minha querida – gritou dona Conceição – seu dia! Vamos dar parabéns pra ela aí!?

Juro, a Letícia (também fui eu que batizei) puxou um “parabéns pra você” do nada e todo mundo seguiu. Eu só ria. A Cleide, que estava na minha frente, balançava a cabeça com um “eu não creio”, mas ria ao mesmo tempo.

Em Del Castilho entrou a Deise, com uma mochila enorme na cabeça:
– Meninas, não reclamem comigo não, também tenho que trabalhar. Reclamem com o burguês safado que é dono dessa merda e ganha às nossas custas e não melhora isso aqui. Ainda vou chegar no trabalho e o filho do puto (adorei o xingamento no masculino) do meu patrão vai reclamar que tô atrasada.

Com certeza Deise estava ma manifestação de ontem RS! Ela ainda completou durante o caminho:

– Vcs estão rindo? É pq ainda não chegou em Maria da Graça, lá a mulherada faz treinamento pra invadir o vagão, vcs vão ver.

Todo mundo já estava rindo e o Metrô estava parando na estação, que por sua vez estava abarrotada de gente.  Juro, eu achava impossível entrar mais uma pessoa ali. De fato não entrou uma, entraram umas 10! Sim, Deise tinha razão, em Maria da Graça a galera treina pra entrar no vagão.

Quando a porta fechou, a Paulinha, pequeninha ela, não sei como respira naquela muvuca, gritou:
– Caraca, pelo menos a mamografia eu já fiz esse mes. Pq se tivesse um câncer aqui no peito eu já tinha sentido de tanto que vcs apertaram.
-Reclama não. A outra ali falou que a culpa é do burguês. – disse a Cleide rindo.

Na jornada do Metrô, se você sobrevive até Triagem, você chega no fim da linha, porque daí em diante ele não esvazia, mas também não enche mais que aquilo.

Eu adoro esses encontros. Eles me divertem. Eles me motivam e me inspiram. Não deveria ser assim. Não deveria ser essa zona. Os belos encontros não justificam o descaso, mas que bom que no meio do caos a gente ainda é gente e encontra com gente.

Isabela Calil é uma figuraça que adora ficar circulando pelo mundo, e quando se aquieta à frente do computador extrai muitos risos de seus seguidores!

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