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O Atol

O Atol

Einstein já dizia que o tempo não é uma grandeza contínua e que ele varia conforme a percepção de quem o aprecia. Este conto nada científico ilustra bem o ponto de vista espaço-tempo.

Abri os olhos e lá estava eu em uma bela lancha navegando pela baía de Angra dos Reis. O local era paradisíaco e a presença dos dois queridos amigos Márcio e Ana faziam da experiência algo muito mais agradável. Nesses momentos podemos apreciar quão boa é a vida e quão prazeroso é este planeta que recebemos de presente. Acelerei e pude sentir o poder daqueles dois motores de 350HP cada deslocando a luxuosa embarcação de 38 pés que cortavam o oceano como uma bailarina em apresentação de gala. Era possível sentir a mágica da vida na minha face cortando o vento, naquelas aves acompanhando o barco ou na simples beleza do espelho de água estendido como um tapete. Nada é tão bom que não possa melhorar! Foi quando avistei o atol, que despontava nas águas tornando aquele cenário ainda mais belo. Sugeri aos amigos que parássemos para explorar e, penetrando a formação ancoramos acerca de 20 metros da praia, no interior da formação.

Não havia risco de encalhar pois a água estava tão cristalina que era possível ver o fundo desde a entrada do atol. Saímos da lancha e caminhamos pela água até chegarmos aquela praia virgem, a areia branca dava um clima de paz e a vegetação composta por flores cativantes era um convite a uma caminhada. A ilha não era muito grande, tendo aproximadamente 200 metros de extensão de praia na parte interna. O amigo Márcio deixou-se encantar por aquelas flores e árvores e adentrou a pequena floresta. Eu e Ana fomos andar na água, maravilhados com a beleza da vida marinha.

A 100 metros da praia, a profundidade não era suficiente para a água cobrir nossos ombros e era possível ver os peixes a areia branca ao fundo que se pulverizava quando pisávamos, a vegetação subaquática ornamentava aquele fundo branco e servia de celeiro para grande variedade de vida.

Ficamos ali a apreciar, quando percebi que os olhos de Ana eram tão belos quanto tudo o que estava vendo. A suavidade de sua mão fazia aquele momento ainda mais inesquecível, quando então fiquei contemplando tudo aquilo numa posição que a possibilitava se alojar em meus joelhos. Naquele clima de romântico que acontecia, o calor de nossos corpos era suficiente para aquecer a água, e ficamos lá trocando carícias num prolongado abraço que parecia fazer o tempo parar.

Ana me lembrou que Márcio estava por voltar, e ele não deveria ver até onde nos envolvemos, então lhe mostrei a extremidade do atol e propus que deveríamos caminhar até lá para ficarmos na parte externa, longe dos auspícios olhares. Caminhamos com dificuldade sobre as pedras até que chegamos ao lado externo, em contato com o oceano aberto, sentamos nas pedras e nos deixamos envolver em carícias novamente.

Abri os olhos e lá estávamos nós, às margens do Rio Arruda, em Belo Horizonte. No meio da metrópole com prédios em todos os lados, uma avenida movimentada e o rio canalizado ao nosso lado. Ana ficou confusa e eu gastei alguns segundos até perceber o que havia acontecido. Expliquei a ela que aquilo era um sonho, e que deveríamos voltar para explicar ao amigo Márcio que toda aquela maravilha não passava da resultante das sinapses cerebrais de um dorminhoco romântico.

Olhamos para o rio e ele fazia uma leve curvatura para a esquerda, como se fizesse o contorno do atol. Prosseguimos caminhando naquela direção por longos minutos até percebermos que, aquela curva era infinita. Foi fácil chegar a conclusão de que naquele mundo imaginário poderíamos passar a vida caminhando e o panorama continuaria o mesmo.

Doeu em mim, mas tive que explicar a Ana, que o nosso tempo estava acabando, que em breve eu acordaria e aquele mundo, aquela ilha, aquele mar, tudo seria eliminado como um computador quando é desligado. Com isso, tudo o que vivemos, aquela ardente paixão que pareceu durar séculos não passava de microssegundos na minha ávida imaginação. Ela chorou e tentou alternativas para continuarmos juntos, mas infelizmente nada poderia mudar o destino. Abracei, sequei suas lágrimas em minha camisa e enquanto me aproximava para um beijo de despedida… Abri os olhos e lá estava eu no meu quarto, a ausência de alguém ao meu lado na cama era o necessário me lembrar de tudo o que havia acontecido.

Márcio ficou para sempre perdido naquela ilha e Ana, em Belo Horizonte a lembrar que o amor nasce quando menos se espera, sobrevive em qualquer circunstância, e ainda dure um milissegundo pode ser vivido intensamente como se durasse uma eternidade.

Nota: Os nomes dos personagens são fictícios

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