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Do Anonimato a Objeto de Estudos em Cambridge

Do Anonimato a Objeto de Estudos em Cambridge

Ele poderia ser apenas mais um empresário bem sucedido, se não tivesse virado matéria de estudo em uma das maiores universidades do mundo.

Imagine a situação: Você muda do Rio de Janeiro para Londres com o objetivo de estudar Ciências Políticas em uma universidade conceituada mundialmente e durante as aulas você aprende sobre o desenvolvimento político nos países do Terceiro Mundo. Lendo o livro proposto pelo professor você encontra uma grande citação a um amigo, mencionando o tal com importância ímpar na história de um povo.

Isso aconteceu recentemente com uma amiga, a Mônica Valéria, que está cursando a matéria citada na Universidade de Cambridge, e o amigo citado no livro é, nada menos, que o ex-Deputado Federal Francisco Silva, proprietário da Rádio Melodia FM, a qual tenho servido nos últimos 12 anos.

Foi grande a emoção saber que o amigo e contratante está descrito nos livros de história social como importante figura no cenário político nacional. É importante salientar que, pelo simples fato de ter sido eleito Deputado Federal por três mandatos consecutivos e tendo abandonado a carreira pública por opção, seu nome já se encontra registrado para a posteridade em nosso país. A citação no livro Evangelicals and Politics in Asia, Africa and Latin America (Evangélicos e política na Ásia, África e América Latina) dá uma nova conotação à importância histórica desse homem. O autor mostra e ensina a técnica utilizada por Francisco Silva para se tornar o Deputado Federal mais votado em seu Estado. Na visão de Paul Freston ele tem a mesma importância dos grandes inventores do século passado por ter criado uma metodologia que servirá de ensinamento para as futuras gerações.

Pelo fato de não viver no Rio de Janeiro e nem a situação criada pelo proprietário da Rádio Melodia, o texto de Freston é extremamente cético em relação às convicções ideológicas deste empreendedor. É necessário que o leitor tenha isso em mente no momento da interpretação do texto, valorizando a importância intelectual que lhe é conferida e descartando as desconfianças do discurso puramente técnico.

Eis o trecho do livro, traduzido por mim com o texto original logo abaixo:

Texto Traduzido

(…) A ligação com a mídia permaneceu forte. O melhor exemplo foi Francisco Silva, que recebeu com grande distância a maior votação para Deputado Federal no Estado do Rio de Janeiro (210 mil votos, 80 mil acima do segundo colocado, que foi um conhecido Ministro da Economia). O seu caso demonstra o poder da mídia na estruturação do mundo pentecostal. Silva aparece para representar a invenção da identidade religiosa para fins políticos. De origem pobre, ele prosperou na indústria farmacêutica. Percebendo o crescimento do mercado de música evangélica, ele abriu uma gravadora. Em 1987 ele comprou uma rádio FM no Rio, transformou sua programação para totalmente evangélica e foi um sucesso instantâneo. Essa foi a sua plataforma para a política. Ele ganhou os pastores anunciando seus aniversários no ar e permitindo a eles anúncios gratuitos, com isso criou sua mala direta para o período das eleições. Em 1990 ele foi eleito para o Congresso com 40 mil votos, a maioria vindo da Assembléia de Deus. Silva muitas vezes se intitula “um evangélico de todas as igrejas”, mas em outras ocasiões ele se diz pertencer à Congregação Cristã. Isso é curioso, porque a Congregação Cristã proíbe atividades políticas e rejeita a mídia de massa. O líder da igreja disse que não sabia a respeito de Silva. Se a ligação for realmente uma invenção, ela é muito inteligente porque a Congregação Cristã é a única igreja que nunca se preocuparia em publicar uma negação. Silva parece ser um novo tipo de político: um empresário com um mercado totalmente evangélico que inventou uma denominação de igreja para se projetar politicamente. O Protestantismo oferece um mercado de crescimento rápido relativamente necessitado em recursos culturais. Adicionalmente também não tem uma instituição central capaz de definir limites, o que o deixa exposto a “exploradores”. Mas se ele pode ser classificado dessa forma (como é por muitos), Francisco Silva não é eleito sem o consentimento dos líderes eclesiásticos. Isso explica o conflito sentido por muitos pastores pentecostais devido ao seu estado contraditório, e a ânsia por uma comunidade socialmente inferior de ver seus símbolos e valores disputando por um valor na vida pública. Isso também mostra o poder da mídia religiosa como um intermediário entre seitas de conversão e vida pública, como uma expressão de sua característica doutrinária, proselitista e sectária. (…)” (pg. 42 e 43) FRESTON, Paul. Evangelicals and Politcs in Asia, Africa and Latin America. Cambridge University Press, 2001.

Texto Original

“The link with the media remained strong. The clearest example was Francisco Silva, who had by far the largest vote for federal deputy in the state of Rio de Janeiro (210.000 votes, eighty thousand more than the second-placed man who was a former Minister of Finance). His case illustrates the power of the media in structuring the pentencostal world. Silva appears to represent the inventation of religious identity for political ends. Of poor origin, he prospered in the pharmaceutical industry. Perceiving the growing evangelical music market, he started a recording company. In 1987, he bought an FM radio in Rio, gave it totally evangelical programming and was an instant sucess. It became his platform to politics. He won over pastors by announcing their birthdays on the air and allowing them free announcementes, thus setting up his direct-mailling list for election time. In 1990 he was elected to congress with forty thousand votes, mostly from the AG. Silva sometimes calls himself ‘an evangélico of all the churches’, but on other occasions he claims to belong to the Christian Congregation. This is curious, since the CC prohibits political activity and rejects the mass media. A leader in the church said he did know of Silva. If the link is really an invention, it is very intelligent since th CC is the only church which would never bother to publish a denial. Silva seems to be a newtype of politician: an entrepreneur with a totally evangelical market who invents a church affiliation to project himself politically. Protestantism offers a rapidly growing market relatively lacking in cultural resources. In addition, it has no institutional centre capable of drawing authorised boundaries, thus leaving it exposed to ‘exploiters’. But if Silva can be classified as such (as he is by many), he is not elected without the agreement of church leaders. This exemplifies the conflict felt by many pentencostal pastors because of their contradictory status, and the longing of a socially inferior community to see its simbols and values disputing a place in public life. It also shows the power of the religious media as intermediary between conversionist sects and public life, as an expression of their doctrinal, proselytistic and sectarian ethos.” FRESTON, Paul. Evangelicals and Politcs in Asia, Africa and Latin America. Cambridge University Press, 2001.

Páginas do Livro

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