Dando continuidade à matéria anterior, falando sobre Social Networks, uma das plataforma desse gênero já está se destacando das demais. Confira ainda, regras de bom comportamento em comunidades Internet.
Colaborou: Ricardo Cavallini Terra – Informática
“orkut – José Silva has added you to his friends list”. Se você tem vários amigos espalhados por toda a Internet e ainda não recebeu uma mensagem como esta, provavelmente vai receber em breve, a nova “rede social” criada por Orkut Buyukkokten, funcionário do Google, se espalha rapidamente pela Internet. Nos dois primeiros dias de fevereiro (2004), 100 mil novos usuários se cadastraram no sistema, um ritmo de crescimento muito superior ao dos concorrentes como o Friendster ou Tribe.
O número é ainda mais impressionante se você considerar que a inscrição não é aberta a todos os internautas. É preciso ser convidado por alguém que já é membro para poder entrar. O sucesso foi tanto que o Orkut até ganhou seus próprios clones: a Mirabilis, fabricante do ICQ, lançou recentemente o Universe.
Vai, fala a verdade! Você tentou pronunciar o nome Orkut Buyukkokten! Comente sua reação lá embaixo, na seção de comentários.
O sistema, que ainda é um protótipo, funciona mais ou menos assim: quando uma pessoa te adiciona à lista de amigos, você também pode adicioná-la à sua se a amizade for recíproca, ou deixá-lo de fora. Você também pode se declarar “fã” de um amigo, deixar mensagens, escrever um testemunho sobre ele, adicionar ele (ou ela) à lista de pessoas por quem você tem uma “queda”, e por aí vai. Os usuários também podem se organizar em “comunidades”, e criar fóruns de discussão sobre temas variados. E à medida que a sua “rede social” vai crescendo e você entra em contato com amigos, amigos dos amigos ou outros usuários com os mesmos interesses que você, o potencial do Orkut começa a surgir.
De sua rede podem surgir parceiros de escalada, oportunidades de negócio ou até mesmo o grande amor de sua vida. Todo o burburinho ao redor do serviço, que ainda é um protótipo, já gerou até um mercado negro. Membros estão vendendo convites a US$ 2,00 cada. No eBay, convites chegaram a ser leiloados por até US$ 10,00. Pensar que o Orkut é uma brincadeira que deu certo é um erro. Talvez esta percepção de brincadeira seja justamente um dos motivos do sucesso, mas o Orkut deve ser encarado como uma iniciativa séria e muito bem planejada pelo Google.
Na posição atual do mercado, ter milhões de usuários sem rosto pode ser um problema sério no modelo de negócio do Google fechando várias possibilidades de receita. É ai que entra o Orkut, uma ferramenta de “social network” lançada em versão beta sem nenhum alarde. A ferramenta em si não é novidade e funciona de maneira bastante simples. Você só entra se for convidado – o que aumenta o gostinho de se sentir especial e a curiosidade de participar. Ao entrar, você vai adicionando amigos na sua lista e vendo, entre os amigos dos amigos, quem é seu amigo, uma espécie de derivativa daquele conceito de six degrees ou até mesmo daquela piada “todo mundo conhece alguém que conhece alguém que conhece o Kevin Bacon”.
O site é viciante e cresceu em uma velocidade tão absurda que mostrou para o próprio Google uma regra básica que se aprende em um bom curso de marketing, ou seja, tenha um “plano B” para o fracasso mas tenha também um “plano B” para o sucesso.
Mas o que o Google ganha com isso? Simples, basta ligar as duas bases, o que pode ser feito facilmente, que ele passa a contar com uma base de dados riquíssima e incrivelmente completa sobre todos os usuários do Orkut que visitem o Google. E estamos falando de informações muito mais valiosas do que os outros portais possuem como data de nascimento, opção sexual, desejos e muitas outras além do tradicional nome, e-mail e endereço.
Imagine o que isso abre de possibilidades no ponto de vista de modelo de negócio. Se cada vez mais as procuras pagas estão ganhando espaço na verba dos clientes, imagine poder escolher exatamente os clientes que você quer atingir. A “semente” para isso já foi plantada: o Orkut guarda dados do usuário (ID, última visita, etc…) no mesmo cookie do Google, que pode usá-los para consultar seu profile, descobrir do que você gosta e personalizar os anúncios ao seu gosto, tornando-os muito mais eficientes. Parabéns para o Google: o Orkut está em fase beta mas já se provou ser um dos melhores cases de Marketing viral da web.
All your base are belong to us
Contudo, o Orkut também tem um lado sombrio. Há uma cláusula nos termos de adesão ao serviço que garante aos proprietários direitos a tudo o que você fizer, disser ou postar no sistema, seja uma piadinha, um trecho de seu novo romance, a letra de uma música, uma nova imagem, ou um algoritmo para resolver um complicado problema de programação.
O trecho relevante está na seção “orkut.com’s proprietary rights”, primeiro parágrafo, que reproduzimos, traduzido, abaixo. Ao submeter, postar ou mostrar quaisquer materiais no ou através do serviço orkut.com, você automaticamente nos dá direitos mundiais, não-exclusivos, sublicenciáveis, transferíveis, sem royalties, perpétuos e irrevogáveis, para copiar, distribuir, criar trabalhos derivativos ou executar e exibir publicamente tais materiais. Ou seja, cuidado com o que você diz.
A Microsoft incluiu termos similares no sistema de autenticação Passport, usado em vários de seus serviços online como o Hotmail e MSN Messenger, e foi forçada a alterá-los após a reação do público. O Yahoo! tentou a mesma coisa com o Yahoo! Groups, e também desistiu após reclamações. Na verdade, esta é uma cláusula quase padrão em todos os serviços via Internet. Se colar, tudo bem, se alguém reclamar ela é removida do contrato.
Outra preocupação dos defensores da privacidade é a enorme quantidade de informações que o sistema tenta coletar sobre você durante o processo de registro. É um paraíso para os marketeiros, que ficam sabendo tudo sobre seus clientes, e podem cruzar e armazenar estas informações em perfis úteis em futuras campanhas de marketing. Contudo, você não é obrigado a fornecer todos os dados que o sistema pede, ou a fornecer dados verdadeiros, embora isso aumente suas chances de encontrar pessoas interessantes.
Os famosos
Não é só gente comum que participa da gigantesca comunidade Orkut (que, no momento, já tem mais de 13 mil membros). Celebridades também marcam presença, como Mitch Kapor, fundador da Lotus, Steve Wozniak, co-fundador da Apple, e criador do Apple I e Apple II, Esther Dyson, Alan Cox (uma das grandes figuras no desenvolvimento do sistema operacional Linux), Tim O’Reilly (dono da editora O’Reilly) e por aí vai. Mas tenha cuidado: não é porque o nome de seu ídolo está no sistema que o cadastro dele é real, perfis falsos, criados por engraçadinhos, surgem a todo momento, e são apagados pouco tempo depois. Bill Gates e Romário fazem parte do Orkut. Acredite se quiser.
As leis não escritas da comunidade
Por ainda estar em testes, o Orkut não tem um conjunto fixo de regras para guiar o comportamento de seus mais de 13 mil usuários (dois quais 3,47% são brasileiros). Contas são colocadas “na cadeia” (temporariamente suspensas) e usuários banidos a todo momento, às vezes sem motivos.
Buscando entender melhor o que pode lhe causar problemas, a usuária Elonka Dunin, com a participação de outros membros da comunidade, criou uma lista com as leis não escritas do Orkut. Leia e obedeça, e tudo estará bem.
1 – A gerência do orkut.com tem, e exerce, o poder de remover qualquer usuário, discussão ou comunidade do serviço a qualquer hora, por qualquer razão, sem aviso ou notificação prévia. Nota: Se você acha que sua conta foi removida sem motivo, envie um email para help+error@orkut.com pedindo que ela seja restaurada. A maioria das remoções ocorre por bugs no sistema e não por violações dos termos de uso, portanto, sua conta pode estar de volta em poucos minutos.
2 – Críticas ao Google ou seus funcionários provavelmente farão com que sua conta seja deletada. Se você tem uma sugestão/dúvida real, envie-a para a comunidade “What Should Google Do”. Os chefões do Google a lêem regularmente.
3 – Não envie um monte de mensagens aos amigos-dos-amigos (algumas pessoas sugerem que você não envie nenhuma).
4 – Use uma foto sua no seu perfil. Ou seja, uma foto onde seu rosto esteja visível, não uma do seu pé, seu cachorro ou personagem de desenho animado favorito. Ainda não está claro se a imagem precisa mesmo ser uma foto. Muitas pessoas usam caricaturas de si mesmas sem problemas. Fotos de personalidades, personagens de ficção e outros materiais copyrighteados podem causar problemas. Se a foto em seu perfil parece ter vindo de uma revista de moda, melhor ter outras fotos no álbum pessoal para provar que é você mesmo, e não uma imagem tirada de algum site na Internet.
5 – Use seu nome real no perfil. Nomes “engraçadinhos” como “Nintendo Mastr” e “Leet Boy” provavelmente farão seu perfil ser deletado.
6 – Não promova a pornografia e não coloque no ar fotos de qualquer coisa, por mais vagamente humanóide que seja, nua.
7 – Não tente invadir o sistema.
8 – Não minta, não faça spam, não promova nenhuma atividade que você saiba ser ilegal.
9 – Não use palavrões nos nomes de comunidades ou descrições (no meio das discussões nos fóruns, um palavrão ocasional ou outro parece não fazer mal).
10 – Não crie comunidades com títulos “ofensivos”. Por exemplo, se quiser falar sobre sexo, criar uma comunidade chamada “Sexualidade Humana” é mais adequado do que uma chamada “Fãs de peitudonas”.
11 – Não crie um número excessivo de comunidades. Verifique primeiro se há uma comunidade apropriada para o assunto que deseja discutir. A maioria dos usuários não tem nenhuma comunidade. Alguns tem uma ou duas. Poucos terão mais de dez. Criar 600 comunidades provavelmente fará você ser expulso.
12 – Nem todas as regras são seguidas à risca. Quebrar uma ou duas delas pode não ter nenhum efeito, quebrar várias certamente terá.
13 -Assuma que nada no orkut é permanente. As coisas mudam freqüentemente, às vezes diariamente.
14 – Se você tem uma dúvida ou reclamação, lembre-se de que é um beta-tester. Expresse sua opinião como “crítica construtiva” sempre que possível. Ou seja, não diga que “A função X é uma droga!”. Diga “Não gosto da função X porque ____. Poderia ser melhor se ____”. Isso ajuda os desenvolvedores a entender o “porquê” você não gosta de determinado recurso (que pra eles, muitas vezes, parece ser perfeitamente adequado) e dará idéias de como melhorá-lo.
15 – Seja educado.
16 – Não assuma que essas regras são precisas.