Ilan Ramon, vítima do acidente no Columbia e primeiro astronauta israelense, adapta preceitos religiosos judaicos para a rotina longe da Terra.
O primeiro astronauta israelense no espaço levou a Nasa, a agência espacial americana, a se adaptar aos preceitos da religião judaica. O coronel Ilan Ramon, de 48 anos, fará parte da tripulação do ônibus espacial Columbia, cujo lançamento está marcado para 16 de janeiro.
O grande desafio foi decidir como cumprir o sabá, período de recolhimento e reflexão que vai da noite de sexta-feira à de sábado, no qual os judeus devem se abster de realizar qualquer trabalho. A dificuldade era determinar quando começa e termina o dia do ritual numa nave que gira em torno da Terra tão rápido que vê o sol nascer e se pôr a cada 90 minutos.
Depois de consultar autoridades religiosas, o rabino do astronauta nos Estados Unidos determinou que a referência seria a hora local de Cabo Canaveral, na Flórida, onde fica a base da missão. Ramon vai celebrar o dia recitando uma oração especial ao vinho sagrado, que levará a bordo em recipiente próprio mas estará liberado para realizar suas tarefas durante o sabá. “A lei tem de se adaptar aos tempos modernos para não cair em desuso”, diz o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista.
Outro desafio é atender ao desejo expresso pelo astronauta de contar com opções de comida kosher. São alimentos preparados segundo regras determinadas pela religião, como a de não misturar leite com carne. A Nasa já entrou em contato com uma empresa americana que fornece marmitas desidratadas kosher a soldados judeus ortodoxos do Exército americano.
Como a despensa da nave é apertada, não será possível oferecer uma rica dieta para os dez dias da missão. Em algumas refeições, o israelense terá de escolher itens do menu comum dos astronautas, que inclui porções de arroz, macarrão, salmão e cereais.
Ramon não é o primeiro astronauta judeu. Nem se considera um praticante rigoroso. Mas, como se trata do primeiro cidadão de Israel a sair da Terra, o simbolismo cultural e religioso ganha importância. Seu ingresso na missão foi acertado há sete anos entre o então presidente Bill Clinton e o primeiro-ministro israelense, Shimon Peres. A bordo, Ramon cuidará de uma câmera que analisa partículas de poeira na atmosfera terrestre. Mas a missão política do vôo deverá ter o mesmo destaque, ou ainda maior, que os próprios objetivos científicos. “Sinto que estou representando todo o povo judeu”, resumiu o astronauta.