Recentemente recebi o seguinte questionamento:
“Estive pensando sobre viajar na velocidade da luz. Acabo pensando que seja mais provável alcançarmos a capacidade de dobrar o espaço-tempo e viajar através dele. O que vocês acham disso?”
Renato Frade
Indo direto à resposta, ou seja, a minha opinião pessoal sobre o tema citado, acredito que nosso conhecimento sobre as leis que regem o universo, apesar de parecer ser muito abrangente e contemplar todos os fenômenos observáveis ainda é demasiado infantil.
Eu creio que, ainda que improvável, e muitos vão dizer sem sentido, ainda está por vir uma nova grande descoberta que vai revolucionar o conhecimento humano e o entendimento sobre o funcionamento do Universo. Para isso seria necessário algo que violasse completamente os conceitos da física moderna, e esse conhecimento nos dará ferramentas para superar o obstáculo das distâncias cósmicas, seja encontrando um meio de exceder em muitas vezes a velocidade da luz ou seja através da criação de uma forma de criar artificialmente pontes Rosen-Einstein, tendendo a acreditar em maior probabilidade para a segunda opção somente pelo fato dela já ter sido prevista pelo grande mestre Albert.
Na verdade como minha opinião envolve as duas respostas simultaneamente então a verdadeira pergunta seria “você acredita que ainda venha a existir uma nova grande revolução na física?” e minha resposta, como pode se observar, é sim. E para isso exponho as minhas considerações.
1. O Limite Físico da Velocidade da Luz
Não tem como falar de espaço-tempo sem citar Einstein, a personalidade que mais admiro. Pelas leis da física e fórmulas criadas pelo grande gênio, é impossível superar a velocidade da luz. Não pelo fato de não existir tecnologia que propicie tal feito, pois ela pode um dia a vir a existir. A questão é que, resumindo muito, caso um objeto atinja a velocidade da luz, este objeto ganharia massa infinita, e para isso seria necessário também energia infinita.
2. Os limites físicos do Buraco de Minhoca
A hipótese da dobra no tecido espaço-tempo leva ao que chamamos de buraco de minhoca ou ponte Einstein-Rosen. A questão em relação a isso é que, a única forma conhecida atualmente de se penetrar em um buraco de minhoca seria através de um buraco negro. A massa e poder gravitacional desses corpos celestes levam a crer que, o outro lado deles seja algum outro ponto do Universo, onde ele emergeria em um buraco branco. Buracos brancos são incrivelmente menores em extensão que buracos negros, e o túnel que eventualmente ligaria as duas estruturas seria extremamente menor. Então ainda que conseguíssemos criar um veículo resistente o suficiente para sobreviver ao campo gravitacional de um buraco negro, ele certamente não sobreriveria à viagem através do duto que liga o buraco negro ao buraco branco. Isso sem falar que esse duto, até onde se sabe, teria proporções milimétricas. Nesse vídeo, o brilhante Pedro Loos explica de forma bem didática a impossibilidade da criação de um buraco de minhoca com o conhecimento que temos hoje.
3. A Física 2.0
Eu já tive discussão com uma cientista da NASA e, baseando-se nas duas considerações anteriores ela defendeu o argumento de que será completamente impossível para a raça humana ir além dos limites citados acima, ou até mesmo estabelecer com alguma civilização a tal nível de distância. Eu insisti em uma solução, até que ela respondeu o seguinte. Os limites da velocidade da luz e dos buracos de minhoca não estão abertos à discussão. Eles seguem os conceitos mais puros da física, não são uma suposição. E a fisíca como conhecemos é perfeita, ela funciona, a única forma de violar esses limites seria se nacesse uma nova física, a física 2.0. Essas foram as palavras dela.
4. A Física 3.0
Aqui vem mais uma opinião pessoal minha, e quando falo de Einstein parece que estou sendo parcial por conta da minha admiração pelo cientista alemão. Na minha opinião, quando Einstein provou a Teoria da Relatividade Geral aqui no Brasil, em Sobral, ele deu origem à física 2.0, e por isso eu acho que essa nova física seria a 3.0 e não a 2.0. Uma frase escrita na revista Superinteressante expressa bem o que quero dizer:
Em 1919, Einstein virou lenda, a Física virou de ponta-cabeça, o tempo e o espaço viraram uma coisa só… E Sobral virou a cidade mais famosa do mundo
Revista Super de 29/05/2019
Os conceitos implementados com a prova da precisão da Teoria da Relatividade Geral de Einstein mudaram tanto a forma como vemos o Universo que os princípios físicos até então vigentes se tornaram obsoletos porém coexistindo sem qualquer dificuldade com a nova descoberta. Para isso vou dar duas provas:
A) Quando se calcula o tempo que vai levar para percorrer dois pontos, você leva em consderação a influência da distorção de espaço-tempo? Não, mas ela está lá, porém em quantidade tão insignificante que não faz sentido levar tal informação em consideração, sequer incluí-la em seus cálculos.
B) Quando se calcula a precisão do relógio interno de um satélite orbitando nosso planeta, ou até mesmo da ISS – Estação Espacial Internacional, é possível executar tal tarefa sem levar em consideração a distorção que esses veículos causam no tecido espaço-tempo? Não. A Teoria da Relatividade tem que ser levada em consideração para esse tipo de cálculo. E sim, caso você não saiba, satélites e a ISS viajam no tempo.
Com isso quero mostrar que, para o caso A utilizamos a física 1.0, sem Teoria da Relatividade de Einstein, já para o caso B ela é indispensável. Em ambos os casos a distorção do tecido espaço-tempo está presente, porém mesmo vivendo em uma época onde já conhecemos e temos fórmulas precisas para fazer tal aferição, ela é completamente desprezada ao ponto de nem fazer sentido. Temos o caso claro de aplicação de duas regras diferentes da física para situações similares convivendo paficiamente. Por isso eu digo que já vivemos duas versões da física para serem aplicadas em momentos diferentes. Mas vamos deixar de lado minhas opiniões pessoais e entender que a física é uma só.
5. Jornada nas Estrelas e a Dobra Espacial
A franquia Jornada nas Estrelas (Star Trek), criada por Gene Roddenberry, se baseia na ficção utópica de que em um futuro próximo, século XXIII, a humanidade já terá dominado uma técnica para vencer as distâncias cósmicas através de naves espaciais que conseguem rapidamente viajar entre sistemas planetários dentro da nossa galáxia. Na obra ficcional a técnica é chamada de dobra espacial, dando a entender que a nave viajaria grandes distâncias através da criação artificial do que seriam bolhas de dobra no tecido espaço-tempo. Acontece que mesmo a imaginação do escritor ou de quem dirigia as produções não deixava muito claro de como seriam essas bolhas deixando o conceito muito frágil. Apesar de todo o enredo de Star Trek ser muito coeso, por muitas vezes percebe-se que houve confusão em como funciona o conceito das pontes Rosen-Einstein, principalmente após o fim da era em que o próprio Gene Roddenberry escrevia as histórias.
6. A Impetuosidade do Avanço Científico
Há bem pouco tempo estudávamos o limite da miniaturização dos microprocessadores. Acreditava-se que a evolução no sentido de miniaturização teria atingido seu limite quando fosse possível fazer microprocessadores tão pequenos que seus componentes teriam o tamanho de moléculas. Seria o fim, menor que isso não seria possível afinal, como fazer componentes menores que moléculas? Mas aí vem a IBM e a Intel com a proposta de fazer processadores quânticos. Durante um bom tempo ninguém acreditou, parecia coisa de ficção científica, e hoje já temos três empresas brigando para atingir a supremacia quântica!
Se eu for seguir por essa linha de raciocínio poderia citar centenas de exemplos onde a genialidade humana venceu o limite do que acreditava-se ser impossível, vou contar só mais um caso: Você lembra que bem no passado acreditava-se ser impossível ir mais rápido que o som e hoje é corriqueiro falar em caças supersônicos, isso para não falar dos foguetes e outros veículos espaciais. Essa impossibilidade se provou ser um mito. E não vou falar sobre a descoberta do formato do nosso planeta porque é até maldade. E para não deixar de fora, não esqueçam que hoje os microprocessadores que comandam nossos smartphones já são medidos em nanômetros.
Em face dessa capacidade humana de superar desafios, eu acredito sim que venha a existir a física 3.0, que vai romper a barreira para se transcorrer distâncias astronômicas, seja por superar a velocidade C, seja por conseguir trafegar em buracos de minhoca, ou até mesmo, criar seus próprios buracos de minhoca.
7. A Esperança
Eu disse para a cientista da NASA naquela oportunidade: seu eu não acreditasse na possibilidade de vir a existir uma nova física, eu nem estaria aqui estudando tanto, e acredito que físicos teóricos também não estariam em seus laboratórios se esforçando em descobrir novas maneiras de, audaciosamente ir onde ninguém jamais esteve.