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Corra Para Não Perder o Foguete!

Corra Para Não Perder o Foguete!

Como todos sabem sou um aficionado por exploração espacial e, como não poderia deixar de ser, já fiz viagens com o propósito de ver lançamentos de foguetes. Duas para ser mais preciso.

Quando tudo dá certo é muito bom, mas as melhores histórias nascem quando algo imprevisto ocorre em sua viagem. E agora eu vou contar algo muito engraçado que aconteceu comigo!

Entre outubro e novembro de 2013 fiz uma viagem de 20 dias pela Califórnia na qual percorri 5 mil quilômetros de San Francisco a San Diego indo também aos estados de Nevada e Colorado para visitar Las Vegas e o Grand Canion mas isso fica para outra história. O que interessa agora é que ao final dessa viagem fui direto para a Flórida para então fazer um percurso que iria de Miami a Orlando e então para o Cabo Canaveral para assistir ao lançamento do foguete Atlas V da ULA (United Launch Alliance) que colocaria o MAVEN (Mars Atmosphere and Volatile Evolution) em sua trajetória para Marte.

No dia do lançamento estávamos em Orlando. A ideia era acordar calmamente, fazer uma parada para o lanche e então fazer a viagem de aproximadamente uma hora para o Kennedy Space Center, na Merritt Island. Havia tempo em abundância para isso pois o lançamento estava agendado para o iníco da tarde.

Acordei com o telefone tocando. Era da Rádio Melodia. Eles estavam com algum problema sério em um de seus servidores de rede e fui acionado para resolver. Até aí nada demais, algo comum em meu cotidiano. Ainda deitado coloquei o computador sobre a barriga e comecei a trabalhar na solução do problema e descobri que era bem mais difícil do que eu pensava.

Enquanto ainda pensava em como solucionar o primeiro caso, toca o telefone novamente. Outro cliente com outra emergência. Agora eram duas emergências em andamento. A situação começou a ficar tensa quando vi que ambos os problemas eram demasiado complexos e que, apesar de haver tempo abundante para fazer a viagem eu precisava correr.

Demorou, mas o segundo problema foi solucionado enquanto eu ainda não tinha ideia de como resolver o primeiro problema e a tensão aumentou quando a Kelly me informou que já estava quase na hora limite de check out no hotel. Enquanto ela se preocupava com o horário de check out minha tensão aumentava porque isso significava que já estava muito próximo ao horário limite para eu sair.

Já quase em desespero com o limite de horário fiz o seguinte: abri o meu telefone com o Google Maps calculando a rota mais rápida para o Kennedy Space Center, com a estimativa de tempo, e abri o telefone da Kelly no site da NASA, com a contagem regressiva para o lançamento. Coloquei um telefone ao lado do outro e fiquei trabalhando de olho nos dois telefones!

Lembro como se fosse hoje quando um telefone marcava 1h30 para o lançamento e o outro marcava 1h10 de viagem! Em um momento de desespero consegui encerrar o primeiro atendimento.

Pronto. Atendimentos encerrados, pula da cama, termina de acordar, veste a roupa, enfia as malas correndo no carro e parte em disparada para a estrada sem parar para lanchar. Até entrarmos no carro os dois cronômetros já estavam praticamente empatados.

O camiho de Orlando para o KSC é quase uma linha reta

Apesar de o tempo estar muito apertado eu já estava acostumado com o caminho. É praticamente uma linha reta pela estrada 528 no sentido E (Leste). Eu já estava planejando ir acima da velocidade máxima permitida na via para ter um pouco de folga. E deu certo. O cronômetro começou a mostrar que eu chegaria lá com certa folga. Nesse momento minha única preocupação era que não tivesse polícia na estrada até que… Um alarme no painel do carro!

No dia anterior terminamos nossas atividades em horário muito tardio, já estávamos cansados e eu queria ir logo para o hotel. Apesar de o tanque de combustível do carro já estar bem vazio deixei para abastecer no dia seguinte.

A verdade é que só lembrei que precisava abastecer quando já estava na rodovia 528, no meio do nada, nenhum posto próximo, nenhuma serice plaza. Peguei um dos telefones e pedi para mostrar o posto mais próximo e, adivinha… Nenhum posto no caminho. Eu teria que sair em alguma cidade! No ponto que eu estava, o posto mais viável ficava em um local chamado Wedgefield, e para chegar lá eu teria que entrar na estrada 520 que, para meu desespero é no sentido oposto ao meu objetivo.

Desvio em Wedgefield

Então agora era uma união de fatores. Não podia correr muito para não gastar combustível rapidamente, não podia ir muito devagar para não perder o horário e ainda teria que pegar uma saída na estrada que me levaria a um caminho bem mais longo.

Nesse clima de desespero entrei na 520 sentido NW (noroeste) e andei muito até achar um posto Citgo. Saí do carro já correndo, coloquei o cartão na bomba e mais uma surpresa: não sei se estava com defeito mas não estava reconhecendo meu cartão do banco.

Fui correndo para a lojinha, estava no caixa um senhor de idade avançada atendendo outro da mesma faixa etária. De forma muito lenta ele estava terminando o atendimento. Quando a pessoa se mexeu eu já foi falando “50 on pump 3” (50 na bomba 3). Ao que ele respondeu bem lentamente “sorry?” (utilizado para dizer que você não entendeu o que a pessoa falou, para ela repetir). “50 on pump number 3!” (já falando desesperadamente). Então ele levou quase um minuto para me responder “do you want do prepay 50 dollars on pump number 3?” (você deseja deixar pré-pago 50 dólares na bomba 3?). Eu respondi já quase gritando “yes!”. Ele gastou mais uns 3 minutos para passar meu cartão de crédito e me devolver, mas antes de devolver ele disse bem lentamente algo do tipo “ok, you’re free to go” (tudo bem, você está liberado).

Peguei o cartão, corri lá para a bomba, abasteci o carro em velocidade máxima, fui correndo novamente lá para o caixa para fazer o fechamento, havia outra pessoa na minha frente e o velho senhor bem lentamente terminava de atendê-lo. A pessoa mal saiu da minha frente e eu já desesperado:
– Finished pump number 3 (terminei na bomba 3).
– Sorry? (Hein?)
– Pump number 3, i have finished! (já terminei na bomba 3).
– Ok, how can I help you? (tudo bem o que eu posso fazer por você?)
– I have prepaid 50, pass my card again to return me the difference (eu deixei pré-pago 50, passe meu cartão novamente para me devolver a diferença).
– Ok, give me your card (tudo bem, dê-me seu cartão).
E ali foram mais uns 3 minutos até ele passar meu cartão novamente!

Saí da lojinha correndo para o carro, entrei, liguei, comecei a andar, olho para o lado e… Cadê a Kelly?!!!! Quando eu estava quase começando a chorar de desespero vem ela correndo lá do banheiro.

Saí quase cantando pneu do posto, voltei para a 520, como eu já havia andado muito para o norte, para não ter que voltar tudo até a 528, olhei no mapa, continuei para o norte e entrei na E Colonial Dr. Lógico que a essa altura os tempos se inverteram. O cronômetro regressivo da NASA já estava uns 10 minutos à frente do meu.

Para mim, nesse ponto, já era o “tudo ou nada”. Ignorei os limites e velocidade e fui voando por aquelas estradas. O jogo agora seria: vou ser parado pela polícia ou não. Se for parado, perdi o jogo, não tem mais o que tentar. Porém neste momento tive sorte consegui chegar até a NASA Causeway, uma ponte que liga o continente à Merritt Island. Nesse ponto já podemos considerar a vitória, também consegui compensar o tempo e agora eu estava com crédito de uns 3 minutos. Tudo ia bem até que… (você não achou que seria fácil desse jeito, né?).

A ponte móvel estava aberta. Que agonia! Todos os carros parados e eu vendo aquela ponte levantada lá na frente. Pensei (e falei) “Essa não! O dia tem 24 horas e esse barco resolve passar logo agora!!!”.

Para minha sorte não era um barco passando mas sim uma manutenção preventiva na ponte. Rapidamente a pista do lado oposto foi aberta em mão dupla e o tráfego foi desviado para lá.

Como havia uma longa fila de carros tive que ir andando vagarosamente atrás do trânsito. Passamos pelo ponte, voltamos para a pista correta, trânsito começou a fluir, quando pensei em dar uma arrancada, estranhamente todos os carros à minha frente foram para o gramado e pararam. Eu não entendi nada. O que está acontecendo? Por que todo mundo parou?

E a Kelly grita “olha lá!!!” apontando para o alto. Era ele! O Atlas V subindo majestoso ao céu. Estacionei rapidamente. Nem pensei em pegar a câmera porque não daria tempo. Aquele momento era para contemplar o lindo veículo subindo ao céu com sua cauda luminosa. Ficamos ali, do lado de fora do carro parados, apreciando aquele espetáculo totalmente silencioso. Nenhum som se ouvia, nem da estrada visto que todos os carros estavam parados. O foguete subiu e sumiu entre as nuvens e então, subitamente, vem aquele som tão forte que dava para sentir a vibração no corpo.

Lançamento do Atlas V levando o MAVEN

E assim foi minha primeira experiência de assistir a um lançamento de foguete, na estrada sobre a água (causeway) que liga a Merritt Island à cidade de Titusville. A experiência foi muito gratificante pois graças a todos esses imprevistos eu descobri algo muito interessante. No gramado ao lado da pista oposta havia uma legião de fotógrafos, realmente muitas pessoas alinhadas sentadas em cadeiras de praia para apreciar o lançamento. Eu descobri que ali, naquela praia, é um dos melhores lugares, fora da NASA, para contemplar o lançamento de foguetes de forma gratuita.

Dali prosseguimos para o Kennedy Space Center onde passamos o resto do dia naquele que é um dos lugares do mundo que mais gosto de passar meu tempo.

Depois dessa experiência, passados dois anos, planejei novamente assistir a um lançamento de foguete no KSC, mas dessa vez tinha que ser especial. Eu reservei uma vaga para assistir o lançamento a partir do LC-39, um local conhecido por ser o mais próximo possível que um visitante pode assistir a um lançamento. Uma experiência fantástica que eu recomendo a todas as pessoas. Lá tem arquibancada, uma estrutura metálica para subir e ver bem do alto, na verdade o LC-39 é uma antiga torre de lançamento. Tem caixas de som com todo o áudio da central de comando, tem lanche, souvenirs… Realmente recomendo muito. No vídeo abaixo tem um registro dessa experiência.

Minha experiência no LC-39

Para reservar uma vaga no LC-39 é necessário fazer com grande antecedência porque há poucos lugares e são muito disputados. Pelo menos na época que eu fiz não era disponível pelo site, era necessário comprar os tíquetes de entrada no KSC pelo site e então telefonar para o lá e fazer as reservas do LC-39, só então ficava lierado o pagmento dessa atração no site.

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