É estranho como muitas vezes o óbvio precisa ser falado e repetido e em outras vezes é necessário que se expressem aqueles que tentaram silenciar. Eu, particularmente, nunca dei crédito à tão falada representatividade no cinema. Meus heróis da infância eram personagens de filmes que envolviam exploração espacial e os autores, talvez por estarem à frente do seu tempo, já trabalhavam com essa questão de inclusão total e imparcial desde então.
Eu cresci vendo nas séries de Jornada nas Estrelas, protagonistas de todos os tipos: um capitão de estação espacial negro, uma capitão de nave estelar mulher, outro capitão velho e careca. Nos papéis secundários também muita diversidade como a primeira oficial mulher negra da história da televisão, o primeiro beijo interracial, personagens sem distinção de sexo ou hermafroditas, e por aí vai…
Nunca dei muita atenção para a Disney e suas “princesas” e talvez por isso nunca tenha percebido o quanto eles falharam grandiosamente neste quesito! O texto da minha amiga Carla Goulart deixa isso de forma bem clara e contundente, e que sirva de lição para que a geração atual ou as futuras não cometam os mesmos erros das gerações passadas. Texto da Carla:
Eu poderia apenas postar a foto? Poderia. Mas eu não sou dessas. Gosto de refletir.
Hoje foi dia de fantasia na semana da criança e por trás dessa professora fantasiada existe uma menina que ouviu das amiguinhas (quando era criança) na escola: ” você não pode ser princesa!”. E confesso que por muito tempo eu tive aversão às princesas.
Hoje eu também tive um pouco de dificuldade em planejar e executar a fantasia porque essas memórias ecoam. Mas eu queria que as mesmas amiguinhas vissem o brilho no olhar da minha filha quando viu a mãe de princesa, a surpresa dos meus alunos e a admiração das minhas alunas.
Também queria voltar no tempo e dizer às minhas amiguinhas que a realeza é herança dos meus antepassados, muito antes das princesas da Disney, que aprendi a amar minha coroa natural e que eu posso ser o que e quem eu quiser!
E hoje eu quis ser princesa!
Agora eu, Luciano, voltando aqui novamente.
Comecei a perceber essa deficiência depois que tive uma filha. Não no sentido racial mas no sentido de gênero. Percebia como na quase totalidade das vezes as mulheres eram frágeis e eram salvas pelo heróis homens. Aquilo me incomodou um pouco porque eu pensava “espera um pouco, a minha garota é a heroína, ela que tem que salvar o dia!”. E pude perceber que a indústria do entretenimento foi se adaptando. Os heróis da Marvel e da DC são a prova disso.
Voltando ao texto da Carla Goulart, a Disney também vem se adaptando e trazendo princesas com fenótipos variados e personalidades idem. Ao que tudo indica, pelo menos nesse tópico a próxima geração não irá passar pelos mesmo dissabores que a anterior.
Em Tempo
Sou da firme opinião favorável a criação de novos personagens e super heróis inclusivos, porém eu disse “novos” personagens. Sou radicalmente contra a vandalização de obras já criadas e presentes na cultura popular pelo simples argumento de tornar os personagens inclusivos.
O Super Homem é homem, branco, hétero, cabelo preto. A Mulher Maravilha é mulher, branca, cabelo preto, hétero. O Lion é alienígena com corpo parecendo um gato, o He Man é homem, moreno de cabelo louro, e por aí vai. Faltou inclusão social? Sim, faltou. Vamos corrigir isso vandalizando essas obras? Não. Isso é desrespeito até mesmo com seus criadores. Estou falando isso porque tenho visto algumas pessoas brigando nesse sentido, de que os super heróis antigos deveriam ser reestilizados para acompanhar o atual modelo inclusivo. Na minha opinião isso é errado, muito errado. Que cheguem os novos super heróis atendendo essa demanda da indústria cinematográfica, mas que sejam novos, com essência, roteiro e alma que justifiquem e valorizem a sua presença.
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Concordo em gênero, número e grau.
Pelo seu texto tivemos as mesmas inspirações e admiração de personagens. Star trek foi a série precursora da chamada inclusão social, isso há 60 anos atrás. Outro caso do mesmo período foi Johnny Quest, em que um homem viúvo criava dois filhos, sendo um deles adotivo e hindu. Mas infelizmente as novas gerações por desconhecimento ou talvez mesmo por cinismo não reconhecem. Corroborando contigo, concordo plenamente que se deva criar personagens que representem a “diversidade”, embora nunca tive esse problema de “representatividade”. Posso falar isso com propriedade pois não sou branco e nunca me incomodei com a cor da pele do super-herói. O que importava era a história, o caráter e suas aventuras.
Infelizmente vivemos em tempos de “lacração” e “cancelamento” (neologismo para hipocrisia e intolerância a quem pensa contrário respectivamente). Raríssimos são os casos em que não há nenhum problema em se mexer com as características fisicas do personagem, como por exemplo na série Falcão e o soldado invernal, na qual o Sam assumiu o manto do Capitão América, porém há outros que não tem nada a ver, como o último filme do quarteto fantástico em que a etnia do tocha humana foi mudado de um homem louro para um negro sendo que sua irmã, a Sue, é loura também. Tentaram explicar que ela foi adotada.
Corroboro com a ideia de que novos personagens devam visar a representatividade. Um caso que achei bem legal foi uma hq que lançaram de uma heroína muçulmana (não lembro o nome do personagem). O que também não acho legal é querer forçar ideologias. O tal “empoderamento feminino” na maioria das vezes é tratado de forma impositiva e às vezes afrontosa quando deveria ser retratada de forma natural. As personagens são caracterizadas de forma masculinizada, além de serem muito mais inteligentes do que os homens e ainda construindo uma narrativa que todos eles são burros,escrotos, opressores e, na maioria das vezes, são os vilões.
Um exemplo de heroína forte e “empoderada”, que ao meu ver deveria ser um arquétipo a ser seguido é a Hellen Ripley da franquia “Alien” (também retratada há mais de 40 anos atrás) que mesmo com todas as adversidades não deixou de ser forte, feminina e com seu instinto materno. Enfim, acredito que essas discussões sobre representatividade devam ser naturais não impositivas.