Seria algum tipo de comunicação, teofania, ou apenas imagens residuais aflorando em minha mente? Só para deixar claro, em minha religião não cremos na possibilidade de Comunicação com pessoas que já se foram.
O Quarto branco tinha o pé direito enorme. A parede voltada para a rua era toda de vidro e tinha uma cortina bloqueando a visão externa, lembrando a sala da casa do Francisco Silva ou a saída do quarto do Tio Nelsinho (tio da Kelly que mora próximo a Salvador). Eu acabara de chegar ao mezanino, onde havia um escritório, a mesa de trabalho ficava na parede do mezanino voltada para o interior do cômodo então quem sentava na cadeira de trabalho tinha como vista o quarto e a parede externa. Eu não conseguia localizar onde estávamos pois a cortina estava fechada mas naquele contexto o local era bem familiar para mim, como se eu estivesse entrando mais uma vez no quarto do Papai.
Ele estava sentado ao computador, estava bem saudável e reclamava das anotações que via em um dos computadores e me fez algumas perguntas sobre aqueles lançamentos. Não consigo lembrar as perguntas mas no momento tenho a sensação que eram no sentido de querer saber se eu estava usando os computadres dele e eventualmente seria o responsável pelas informações inconsistentes.
Então eu disse “não pode ser você, você morreu”. Ele fez cara de quem está tentando entender as coisas. Ele disse que eu havia feito algum lançamento errado e perguntou pelo Josoé, como se este pudesse ter percebido meu erro.
Eu disse:
– O Josoé não está mais conosco, ele nos abandonou.
– Ele não pode abandonar.
– Mas abandonou, encerrou todos os negócios que tinha com você, ele nem está mais pedindo as Notas Fiscais.
Fez cara mansa olhando para o local e para o entorno como se agora sim as coisas estivessem fazendo sentido.
E continuei:
– De alguma forma estamos conectados então deixa eu te perguntar rápido antes que a conexão se perca, já que você falou em Josoé, ele te deve alguma coisa?
– Eu não consigo te responder isso, tem um ônibus.
– Não tem noção do valor? Que ônibus é esse, quanto ele vale?
– Eu não consigo lembrar.
– Então esquece Josoé, nosso tempo pode ser curto melhor eu te perguntar outras coisas primeiro.
Começamos a andar para fora do quarto, deixei de olhar para o Papai para olhar para a escada que iria começar a descer mas então nos vimos na Rua Guiomar de Novaes, próximo ao ponto final dos ônibus caminhando em direção a Av. das Américas.
Não era mais ele ao meu lado mas sim a Dida Linda (minha filha Myllena) porém era ele falando através dela. Parecia que para ele agora tudo fazia sentido, que naquele momento ele já estava falando comigo direto do outro plano usando a Dida Linda como meio de comunicação. Não consigo lembrar se a voz era da Dida ou do Papai pois não estou conseguindo lembrar se fazia as inflexões vocais típicas de sua fala natural.
Então perguntei:
– Aí é bonito?
– Não. É escuro, só vejo a luz do Facebook.
– Você já viu Deus?
Então trocamos de lugar novamente, parecia ser a Rua Giocondo Dias (que sai da Guimar de Novaes em direção ao Recreio Shopping), porém estava muito arborizada. A Dida Linda faz uma carinha de risinho e, com aparência de extrema tranquilidade e alegria e me respondeu: “já”.
Então eu acordei. Isso é tudo que consigo lembrar. Percebi que estava acordando do um sonho e tentei voltar para lembrar melhor os detalhes (muitas vezes consigo fazer isso) mas a medida que eu tentava, percebia que as informações iam sumindo rapidamente, então saí rápido da cama e vim para o computador para escrever aquilo que ainda lembrava.