Nesta matéria, escrita para a Wired News, Leander Kahney mostra o quanto a Microsoft tem dado suporte a Apple.
Este mês o Apple Macintosh original completa seu vigésimo aniversário. Para marcar a ocasião, Wired News publica uma série de reportagens sobre essa revolucionária máquina, as pessoas que a criaram e seu impacto sobre a informática e a cultura em geral.
Ao longo dos anos, uma empresa esteve ao lado da Apple nos bons e maus momentos. Enquanto muitas outras empresas, aliadas e adversárias, abandonaram a plataforma Mac, esta nunca perdeu a esperança. E, enquanto outras marcas deixaram de fazer seus produtos compatíveis com essas máquinas, a companhia em questão sempre ofereceu versões Mac de seus softwares. Na verdade, sem o apoio desta companhia, a Apple provavelmente teria morrido. Mas quem será esse anjo da guarda? Muitos usuários de Mac podem não acreditar, mas sua plataforma favorita foi salva pela empresa que eles amam odiar, considerada por muitos o bicho-papão do universo Apple: a Microsoft.
Embora muitos macmaníacos detestem admitir isso, a empresa de Bill Gates ofereceu seu sólido suporte ao Macintosh desde o começo. “Muitos desenvolvedores abandonaram a plataforma Mac, mas a Microsoft não está entre eles”, afirma um ex-gerente de marketing que trabalhou na companhia durante a segunda metade dos anos 90 e pediu para não ser identificado. “Durante os tempos difíceis, eles continuaram desenvolvendo o Office, e isto foi muito importante”, acrescentou a fonte. “Foi um verdadeiro teste de lealdade, e muitas outras empresas foram reprovadas nele”. Segundo ele, o Office é tão importante para o Mac que sem ele a plataforma teria deixado de existir. “Para que sua plataforma seja popular, você precisa do Office”, disse.
Nenhuma empresa no universo Mac é tão criticada quanto a Microsoft. A empresa é odiada pelos usuários da Apple, acusada pelo seu aparente desejo de dominar todo e qualquer setor em que se proponha a operar. Enquanto a Apple é vista pelos entusiastas como uma empresa criativa e individualista, a Microsoft é considerada corporativa e conformada. Os produtos Apple são elegantes e fáceis de usar, enquanto os da Microsoft são vistos como feios e cheios de falhas.
Apesar disso, a gigante do software sempre foi uma boa aliada da Apple. Durante os dias mais sombrios da companhia, no final dos anos 90 e na virada do século, quando ela parecia condenada, muitas empresas de software abandonaram o Mac. A lista inclui nomes de respeito como Lotus e Intuit, bem como veteranas do Mac como a Adobe Systems.
Hoje em dia, a Apple já não parece tão frágil, mas muitas empresas nem pensam em tornar seus produtos compatíveis – quase toda a indústria dos games, por exemplo. Várias empresas costumam demorar para fornecer seus produtos em versões compatíveis com o OS X, sistema operacional dos computadores Apple. A QuarkXpress é o exemplo mais notável, mas a Adobe não é nenhum exemplo de velocidade no que diz respeito a compatibilizar seu Photoshop.
Dos cerca de 10 mil aplicativos disponíveis atualmente para OS X, a maioria deles foi lançada nos últimos nove meses. O sistema existe há dois anos. Contrastando com tudo isso, o Microsoft Internet Explorer foi um dos primeiros aplicativos convertidos para rodar no OS X. E o Office, que logo deve ganhar sua segunda versão para o sistema, é um dos primeiros grandes softwares a estar disponível aos usuários de Mac. “Nós damos suporte ao Mac desde que ele surgiu”, declara Tim McDonough, diretor de marketing da unidade encarregada de softwares para Mac na Microsoft. “Se você observar nossa história, geralmente oferecemos nossos produtos antes das outras empresas”. Além do OS X, McDonough também citou o suporte da Microsoft ao Apple System 7. Mais uma vez, a empresa compatibilizou sua suíte de aplicativos Office ao sistema antes de todo mundo, afirma.
A Microsoft, de fato, sempre esteve próxima do Mac. A companhia criou alguns dos primeiros aplicativos para a plataforma, como o Excel e o PowerPoint.
Embora o suporte da Microsoft tenha dado o empurrão inicial no nascente Macintosh, a relação entre as firmas também beneficiou a Microsoft, que, na época, dependia das vendas do DOS para se manter e possuía apenas cem funcionários. Gates, então com 25 anos de idade, queria tornar seu negócio lucativo, e o Mac foi sua porta de entrada para o mercado de aplicativos. Desde então, a companhia tem se saído muito bem na plataforma Mac, e este é o motivo pelo qual ela mantém sua política de suporte. “É uma questão de bom senso”, afirma McDonough. Temos muitos clientes que usam Mac. Sete milhões de pessoas usam o Office, e elas são importantes para nossa estratégia. Queremos um produto compatível com os computadores que eles usam”.
O ex-funcionário da Apple ouvido para esta matéria concorda. “É um negócio bastante lucrativo para a Microsoft”, disse ele. “Eles não chegaram onde estão hoje jogando dinheiro fora”. Ele sugere que as duas empresas têm um “casamento de conveniência”: a Microsoft fornece o Office, e a Apple mantém o Departamento de Justiça longe dos calcanhares da gigante do software, oferecendo alguma concorrência para o Windows no mercado de sistemas operacionais.
Ele destaca, no entanto, que o relacionamento teve seus bons e maus momentos. Ano passado, a Microsoft deixou de oferecer o Internet Explorer para a Apple quando a empresa lançou seu navegador Safari. Além disso, a Microsoft tem sido lenta em oferecer suporte para Mac em seu Exchange Server, usado para correio eletrônico e outras aplicações empresariais. Por fim, existem vários aplicativos exclusivos do Windows que a Microsoft jamais irá oferecer para Mac.
Da mesma forma, há alguns usuários que ainda encaram Gates e seu pessoal com tolerância zero. Charles Moore, por exemplo, expurgou todo o software da empresa de seu sistema, e hoje tem orgulho em dizer que vive livre da Microsoft. “Tenho vivido alegremente sem produtos Microsoft há dezoito meses, e não sinto falta nem dos programas nem da instabilidade de sistema que vinha com eles”, afirma. “Experimente. Você não tem nada a perder, a não ser os seus grilhões”.