{"id":30,"date":"2007-04-24T14:30:15","date_gmt":"2007-04-24T17:30:15","guid":{"rendered":"http:\/\/informago.wordpress.com\/2007\/04\/24\/como-medir-a-altura-de-um-edificio-com-um-barometro"},"modified":"2020-10-01T02:47:35","modified_gmt":"2020-10-01T05:47:35","slug":"como-medir-a-altura-de-um-edificio-com-um-barometro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/blog.lucianoreis.com\/2007\/04\/24\/como-medir-a-altura-de-um-edificio-com-um-barometro\/","title":{"rendered":"Como Medir a Altura de um Edif\u00edcio com um Bar\u00f4metro"},"content":{"rendered":"\n

H\u00e1 algum tempo recebi um convite de um colega para servir de \u00e1rbitro na revis\u00e3o de uma prova. Tratava-se de avaliar uma quest\u00e3o de F\u00edsica, que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota m\u00e1xima pela resposta, a n\u00e3o ser que houvesse uma “conspira\u00e7\u00e3o do sistema” contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.

Chegando \u00e0 sala de meu colega, li a quest\u00e3o da prova, que dizia: “Mostre como pode-se determinar a altura de um edif\u00edcio bem alto com o auxilio de um bar\u00f4metro.” A resposta do estudante foi a seguinte: “Leve o bar\u00f4metro ao alto do edif\u00edcio e amarre uma corda nele; baixe o bar\u00f4metro at\u00e9 a cal\u00e7ada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento ser\u00e1 igual \u00e0 altura do edif\u00edcio.” Sem d\u00favida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado.

Por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte raz\u00e3o para ter nota m\u00e1xima, j\u00e1 que havia respondido \u00e0 quest\u00e3o completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota m\u00e1xima, estaria caracterizada uma aprova\u00e7\u00e3o em um curso de f\u00edsica, mas a resposta n\u00e3o confirmava isso. Sugeri ent\u00e3o que fizesse uma outra tentativa para responder a quest\u00e3o. N\u00e3o me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio.

Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder \u00e0 quest\u00e3o, isto ap\u00f3s ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de f\u00edsica. Passados cinco minutos ele n\u00e3o havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe ent\u00e3o se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e n\u00e3o tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que n\u00e3o havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor.

Desculpei-me pela interrup\u00e7\u00e3o e solicitei que continuasse. No momento seguinte ele escreveu esta resposta: “V\u00e1 ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o bar\u00f4metro, medindo o tempo t de queda desde a largada at\u00e9 o toque com o solo. Depois, empregando a f\u00f3rmula h=(1\/2)gt^2, calcule a altura do edif\u00edcio.”

Perguntei ent\u00e3o ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposi\u00e7\u00e3o em conferir praticamente a nota m\u00e1xima \u00e0 prova. Concordou, embora sentisse nele uma express\u00e3o de descontentamento, talvez inconformismo. Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora j\u00e1 sem tempo, n\u00e3o resisti \u00e0 curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas. “Ah!, sim,” disse ele – “h\u00e1 muitas maneiras de se achar a altura de um edif\u00edcio com a ajuda de um bar\u00f4metro.”

Perante a minha curiosidade e a j\u00e1 perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explica\u00e7\u00f5es:<\/p>\n\n\n\n

1. Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do bar\u00f4metro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edif\u00edcio. Depois, usando-se uma simples regra de tr\u00eas, determina-se \u00e0 altura do edif\u00edcio.<\/p>\n\n\n\n

2. Um outro m\u00e9todo b\u00e1sico de medida, ali\u00e1s bastante simples e direto, \u00e9 subir as escadas do edif\u00edcio fazendo marcas na parede, espa\u00e7adas da altura do bar\u00f4metro. Contando o n\u00famero de marcas teremos a altura do edif\u00edcio em unidades barom\u00e9tricas.<\/p>\n\n\n\n

3. Um m\u00e9todo mais complexo seria amarrar o bar\u00f4metro na ponta de uma corda e balan\u00e7\u00e1-lo como um p\u00eandulo, o que permite a determina\u00e7\u00e3o da acelera\u00e7\u00e3o da gravidade (g). Repetindo a opera\u00e7\u00e3o ao n\u00edvel da rua e no topo do edif\u00edcio, temos dois g’s, e a altura do edif\u00edcio pode, a princ\u00edpio, ser calculada com base nessa diferen\u00e7a”<\/p>\n\n\n\n

4. Finalmente, concluiu, se n\u00e3o for cobrada uma solu\u00e7\u00e3o f\u00edsica para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir at\u00e9 o edif\u00edcio e bater \u00e0 porta do s\u00edndico. Quando ele aparecer, diz-se: “Caro Sr. s\u00edndico, trago aqui um \u00f3timo bar\u00f4metro; se o Sr. me disser a altura deste edif\u00edcio, eu lhe darei o bar\u00f4metro de presente.”

A esta altura, perguntei ao estudante se ele n\u00e3o sabia qual era a resposta “esperada” para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava t\u00e3o farto com as tentativas dos professores de controlar o seu racioc\u00ednio e cobrar respostas prontas com base em informa\u00e7\u00f5es mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
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“N\u00e3o basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornar\u00e1 assim uma m\u00e1quina utiliz\u00e1vel e n\u00e3o uma personalidade. \u00c9 necess\u00e1rio que adquira um sentimento, um senso pr\u00e1tico daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que \u00e9 belo, do que \u00e9 moralmente correto”<\/p>Albert Einstein<\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n


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